
‘Botannica Tirannica’, exposição que aponta preconceitos na botânica, chega ao Sesc Taubaté
**Projeto de Giselle Beiguelman, com curadoria de Aline Ambrósio, criou um jardim decolonial na unidade; abertura é na quarta-feira (21), às 19h
**Exposição com imagens criadas com Inteligência Artificial, vídeos e ensaio audiovisual é inédita no interior de São Paulo e tem entrada gratuita




Quem visitar o Sesc Taubaté a partir da noite de quinta-feira (21) terá a oportunidade de conferir uma mostra inovadora, que provoca reflexões sobre preconceitos presentes na botânica e na sociedade. Inédita no interior de São Paulo, a exposição “Botannica Tirannica”, da artista e pesquisadora Giselle Beiguelman, reúne imagens criadas com Inteligência Artificial, vídeos e um ensaio audiovisual que transformaram os espaços do Sesc Taubaté e prometem impressionar o público.
Com curadoria de Aline Ambrósio, a exposição convida o visitante, de todos os grupos sociais, a olhar para si mesmo, para o outro e para práticas cotidianas e coletivas de exclusão, muitas vezes naturalizadas no dia a dia.
“Esta mostra é imperdível, pois é uma ferramenta para que possa haver uma verdadeira transformação social, a partir de um olhar crítico sobre a colonialidade imposta historicamente. Sabemos que muitos públicos têm interesse e conhecem popularmente diversas espécies vegetais presentes na exposição, podendo contribuir para essa desconstrução. O objetivo é trazer a sociedade para o debate acerca dos preconceitos enraizados em razão de uma cultura de colonização”, afirma a curadora.
Segundo Aline Ambrósio, logo na primeira visita ao Sesc Taubaté, Giselle e ela perceberam aspectos que tornariam a mostra memorável. “Ficamos impressionadas com a unidade, pois o Sesc possui um amplo espaço arborizado e públicos diversos. Além disso, notamos que a unidade já possuía em seus jardins variadas espécies que estão igualmente presentes em nossa exposição, fazendo ainda mais sentido a itinerância para Taubaté. Os públicos poderão identificar essas espécies ao longo do percurso”, comenta a curadora, citando plantas como o judeu-errante, a Maria-sem-vergonha, a língua-de-sogra e o sapatinho-de-judeu, encontradas por elas na unidade.
O jardim decolonial (intitulado Jardim da Resiliência) proposto por Beiguelman conta com mais de 100 mudas e integrará a unidade do Sesc Taubaté. Os visitantes também irão reparar a revitalização do Espaço Vida, que ganha cara nova a partir da exposição.
A mostra estreou no Museu Judaico de São Paulo e chega ao Sesc Taubaté com novidades. Ganhou três novos núcleos: “Império”, “LGBTQIA+” e “Etaristas”. Os visitantes ainda poderão conferir uma publicação exclusiva com descrição e imagens de todas as espécies retratadas na exposição e presentes na pesquisa.
“Convivendo de forma bem orgânica, todos os núcleos da exposição estão em diálogo. Também proporcionamos o espaço ‘Terra Comum’, convidando os visitantes a escreverem nomes de outras espécies que considerem ofensivos”, conta a curadora.
O projeto
Em sua pesquisa, Giselle mapeou milhares de plantas nomeadas com termos racistas, misóginos e antissemitas para estimular debates sobre políticas de dominação e segregação decorrentes do colonialismo.
A mostra usa o mundo vegetal para questionar as relações entre a ciência e o colonialismo na classificação das espécies. Esse sistema naturalizou o racismo e preconceitos contra diversos grupos étnicos e sociais – entre eles negros, indígenas, judeus, ciganos, LGBTQIA+, mulheres e idosos – que são diminuídos e reprimidos pelo uso discriminatório da nomenclatura científica e popular.
Um dos destaques de “Botannica Tirannica” é o ensaio audiovisual que combina imagens de arquivos históricos e de processamento com Inteligência Artificial, discutindo as formas pelas quais o preconceito racial, cultural e de gênero se fundamenta cientificamente a partir do século 19, contaminando o imaginário coletivo e desdobrando-se em linguagens, vocabulários e estéticas do século 21.
As obras Flora Rebellis e Flora Mutandis são impactantes. A primeira é composta por uma série de vídeos generativos produzidos com Inteligência Artificial a partir de conjuntos de dados organizados relativos a plantas dotadas de nomes ofensivos e preconceituosos.
Já a Flora Mutandis, também uma série de imagens criada com Inteligência Artificial, é resultante do cruzamento de espécies de plantas às quais são atribuídos nomes científicos e/ou populares ofensivos, que expressam preconceitos diversos relativos a partes do corpo e traços culturais. A nomenclatura das espécies da série Flora Mutandis foi gerada algoritmicamente a partir do embaralhamento dos nomes originais das espécies, criando nomes impronunciáveis.
No Jardim da Resiliência, composto por variadas plantas, essas espécies desafiam, por sua resistência, o imaginário colonialista responsável pelos processos de classificação e dominação da natureza, confrontando nomenclaturas baseadas em preconceitos.
A exposição “Botannica Tirannica” fica aberta ao público no Sesc Taubaté até fevereiro. Durante o período, o projeto também prevê atividades pedagógico-curatoriais, comandadas por Aline Ambrósio.
Serviço:
Exposição: Botannica Tirannica, de Giselle Beiguelman
De 21 de setembro de 2023 a 25 de fevereiro de 2024
Local: Área de Convivência e Espaço Vida.
Terça a sexta, das 9h às 21h30; sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h30
Entrada gratuita
Classificação indicativa: Livre
O Sesc Taubaté fica na Av. Engenheiro Milton de Alvarenga Peixoto, 1264. Esplanada Santa Terezinha. Mais informações e agendamento de grupos pelo telefone 12.3634.4000 ou taubate@sescsp.org.br.
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